terça-feira, 8 de maio de 2012

TRICOTANDO NO BEIRA-RIO / NA ERA DA INOCÊNCIA

Queria ter uma foto minha tricotando no Beira-Rio numa tarde de domingo durante um jogo Inter X Rio Grande nos idos de 1990 para compartilhar aqui com vocês. No tempo em que  era permitido o acesso ao estádio portando objetos metálicos ponteagudos, eu acompanhava meu marido e nossos 4 filhos aos jogos, na mais completa plenitude, com segurança e certeza de que estávamos, Luciano e eu,  criando memórias, forjando bases sólidas,  espaços  de convivência, e experimentando nossa prole no trato social e de cidadania.

Desafios para nós pais, expô-los, pouco a pouco, mas desde tenra idade, à amplitude e diversidade do humano, a conviver com o sucesso e a derrota, a controlar as emoções e aprender a consequência da perda desse controle, a xingar e ouvir palavrões no contexto preciso, e a diferençar a violência da barbárie, o repúdio da indiferença, a humildade da pobreza de espírito. O espírito de equipe, a liderança do capitão do time,  a  responsabilidade e o comando do treinador, a mediação do trio de arbitragem, todos os elementos do espetáculo a se desenrolar nos limites do campo persistem como alegoria dessa aventura que é compor uma família.

Os limites, tão naturais de se respeitar no desenho do campo, sinalizando e advertindo desde sempre o risco da infração, tornaram-se para muitos núcleos familiares hoje verdadeiros anátemas e metas inalcançáveis. Esse mesmo mundo contemporâneo, cujas mudanças aparentemente exigem o abandono de valores tidos como perenes, ele mesmo não se sustenta sem referências,  já que são as REDES sociais o seu emblema.  Doce ironia, saber que a experiência da "bola na rede", do momento ora de êxtase, ora de amargura, é tão mais significativa quanto mais compartilhada: o brilho nos olhos, o grito a plenos pulmões, a lágrima contida e o NÓ na garganta.

Bola rolando e os guris aprendendo a conhecer o pai em momento de paixão, torcendo, extravasando, se deixando revelar,  criando LAÇOS de reciprocidade que são inabaláveis, esses sim, perenes. E enquanto a bola rolava, eu tricotava, servia água, protegia do sol, em pleno estádio Beira-Rio, criando memórias e matéria de sonhos, daquilo que, segundo Shakespeare, somos feitos.

 "We are such stuffs                                               "Somos feitos da mesma substância
   As dreams are made on, and our little life            De que são feitos os sonhos, e entre um sono e outro,
    Is rounded with a sleep."                                      Decorre a nossa breve existência".
          The Tempest, Act IV - Prospero                                  A Tempestade, Ato IV - Próspero


Bola pra frente! E tricô, que só faz bem!

Não deixem de conferir o linque  com uma receita de tricô para uma bola de Futebol bem tradicional que eu queria ter tecido  para meus filhos quando pequenos.

http://www.yanaknits.com/projects/soccer-ball/

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6 comentários:

  1. Supreendente descrição de doces memórias guardadas a muito tempo. Obrigado, mãe.

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    1. Que bom que gostaste. Que pena que não se pode mais fazer tricô no Beira-Rio...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Muito bom Mãe...lembro desse jogo como se fosse hoje, íamos na geral, pegava o sol da tarde, dava pra comer laranja do céu e bergamota lá do pátio...goleiro sérgio no meio-campo assistindo o Inter atacar...e até me pergunto se o jogo não era contra o "São Paulo de Rio Grande"?... obrigado por tudo.

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    1. Filhote, acho que tens razão, São Paulo de Rio Grande! Não me lembrava das bergamotas e laranjas do céu, claro... Beijo e muito obrigada também por tudo de bom que vocês me são na vida.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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