sábado, 30 de junho de 2012

BLACK AND WHITE - BRANCO E PRETO

(memória)
Não sei por que hoje me lembrei de um baile que fomos na SACC (Sociedade Amigos Capão da Canoa) no final dos anos 80 que tinha por tema a dobradinha Black and White. O dress code era, obviamente, qualquer um desde que preto e branco. Lembro muito bem da decoração, que exibia ícones temáticos como: dominó, damas, xadrez, zebras, dálmatas, pinguins, Xuxa e Pelé, sal e pimenta, teclados, a bandeira quadriculada da Fórmula 1, a bandeira dos piratas, etc.


Se fosse hoje, não poderia faltar um código de barras. Nem ícones fashion como  o logo da Chanel e o pied-de-poule da Christian Dior.


Naquele baile a atração principal foi nada mais nada menos do que Vanusa, que, fiel ao seu estilo altamente performático, trajava negro com sua cabelereira Platinum Blonde.

(literatura)
E falando na dobradinha, eu penso logo em TV e en tour de force numa metáfora que abre o romance Neuromancer, de William Gibson. Para quem não sabe, Neuromancer é a obra na qual o filme Matrix foi baseado.


The sky above the port was the color of television, tuned to a dead channel.
O  céu acima do porto era da cor da televisão, sintonizada num canal sem sinal.


Pois é, mas para a Geração X, aquela que não chegou a conhecer o mundo antes do advento do PC, a TV fora do ar já não é mais dessa cor...

Eu considero essa metáfora muito intrigante por vários motivos.
  • Primeiro, porque coloca como referência para a natureza a tecnologia, invertendo a experiência da nossa geração, um fato que contribui para  que a obra seja considerada como inaugural do gênero cyberpunk.
  • Segundo, porque a imagem aludida não tem propriamente uma cor,  senão uma gradação de tons de cinza numa disposição aparentemente caótica, remetendo à história da arte, mais especificamente aos movimentos da vanguarda européia (pensei em Cézanne).
  • Terceiro, porque, ao mencionar a TV, a metáfora conjura a experiência sensorial quase que indissociável dessa tecnologia. Com isso, a gente começa a ler o livro numa atitude hipermidial (som, imagem, movimento, lingua/gem , de modo que  o mundo ficcional que o texto verbal coloca em ação adquire irremediavelmente outras dimensões estéticas. Isso, para mim, é o mais interessante, pois repousa no poder da palavra de criar realidades, ou efeitos de realidade.  
Todos esses aspectos eu trabalhei na minha tese de doutoramento, analisando outras obras. 

(tricô e crochet)
Fiquei tentada a tricotar alguma coisa em preto e branco, cyberpunk, chanel, e procurando inspiração encontrei  estes aqui:




Esta colcha eu estou fazendo para o meu filho mais velho:



Esta também é linda:

Receita e fonte da foto aqui:

Também se pode usar este quadro para uma colcha:

Receita e fonte da foto aqui:

E que tal esta clutch?


Simplicidade é tudo:

Receita e foto:

E para não dizer que não falei de rock'n'roll, confiram esta headband:


Gráfico, receita e foto aqui:


Mesmo que você não leia inglês, vale a pena ler este post no blog onesheepishgirl.blogspot.com e se deliciar com as fotos: http://onesheepishgirl.blogspot.com.br/2011/12/knitting-inspiration-in-black-white.html

E aí, gostaram?

domingo, 10 de junho de 2012

ESTRELA CADENTE: DESEJOS, DOCES MEMÓRIAS, LITERATURA E UM POUQUINHO DE TRICÔ E CROCHÊ

MOMENTO MÁGICO



(Fonte da foto: http://coracaofurtacor.blogspot.com.br/2010/12/normal-0-21-microsoftinternetexplorer4.html)

Terça-feira retrasada, chegando em casa de volta da universidade, caminhando da parada de ônibus até o portão de casa, observando o céu limpo, a noite clara, enxerguei um cometa cruzar por cima da minha casa na direção sul-norte. Imediatamente, fui tomada por uma alegria inocente, daquelas que as crianças têm com uma boa surpresa, coisa que há muito eu não experientava. Minha primeira reação  foi fazer  3 pedidos, mas, mais  do que isso, lembrei da última vez em que havia visto uma estrela cadente. Eu acho que eu tinha uns seis anos e, tendo apontado para o céu, sinalizando o que via, fui  repreendida, advertida de que uma verruga cresceria no meu nariz etc. Lembro que  eu fiquei curiosa, não amedrontada ou assustada, e como a verruga não cresceu, perdi o interesse no futuro do meu nariz.
Estrelas cadentes são um espetáculo mesmo, e olhar para as estrelas, contemplar a abóboda celeste, não tem quem não goste. Lembrei então de noites de férias e feriados longos  que passamos na casa do Suspiro da dona Nize e seu Peri Barbosa, no interior de São Gabriel, na década de 80, com a petizada nossa (Bruno, Álvaro, Francisco e Pedro), do Ju e da Ju (Diego e Igor), da Dênia e do Renato (Amandinha e Alire) da Denise e do Alcides (Bina e Manã/Bernardo e Emiliano) em que eu lia "As Aventuras de Tibicuera", de Érico Verissimo, antes deles dormirem, todos  num quartão juntos. Alguns deles abriam  bem os olhos como se para enxergar melhor as cenas e dramas que eu narrava, e aos poucos iam relaxando...

SOBRE A NOITE E AS ESTRELAS:
"À noite eu via as danças dos índios ao redor de uma grande fogueira. Os tupinambás pulavam, faziam roda, rebolavam as ancas, erguiam os braços, batiam com os pés no chão. A fogueira lambia a noite com línguas de muitas cores. De dentro dela saltava um clarão que devorava a luz do luar, pintava de fogo a cara dos guerreiros e ia bolir com o mato que estava dormindo.
Os guerreiros dançavam sempre. Os tambores batucavam - bum-qui-ti-bum, bum-qui-ti-bum, bum, bum... Eu olhava para o céu. A lua parecia uma fogueira branca e as estrelas eram os índios dançando ao redor dela."

Já nos anos 2000, num show de Kleiton e Kledir em Porto Alegre, qo qual eu não pude comparecer, chegando em casa meus filhotes  chegaram emocionados contando que lembraram de mim quando eles cantaram ESTRELA, ESTRELA. E eu me senti a própria!
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Curiosamente, e a propósito, eles também têm uma canção intitulada ESTRELA CADENTE:


E aqui, algumas receitas de cometas e estrelas:
http://www.marniemaclean.com/patterns/Comet/index.htm


Source: etsy.com via Dette on Pinterest

TRICÔ PARA O FRIO DE INVERNO E SNOW MAN, DE WALLACE STEVENS

Sempre que chega o frio de inverno eu lembro deste poema:



SNOW MAN - Wallace stevens.                             BONECO DE NEVE - Wallace Stevens


One must have a mind of winter                             É preciso ter uma mente de inverno
To regard the frost and the boughs                        Para considerar os ramos e a geada
Of the pine-trees crusted with snow;                     Dos pinheiros com a neve incrustrada;
And have been cold a long time                              E ter sentido frio bastante tempo
To behold the junipers shagged with ice,            Para contemplar os zimbros cobertos com gelo,
The spruces rough in the distant glitter                Os abetos ásperos no distante cintilar
Of the January sun; and not to think                     Do sol de janeiro; e não pensar
Of any misery in the sound of the wind,               Em miséria alguma no som do vento,
In the sound of a few leaves,                                    No som de uma folhagem rala,
Which is the sound of the land                                Que é o som que a terra fala,
Full of the same wind                                                  Cheia do mesmo vento
That is blowing in the same bare place                Que está soprando no mesmo lugar descoberto
For the listener, who listens in the snow,            Para quem escuta, e escuta na neve
And, nothing himself, beholds                                 E,  ele mesmo nada, vê
Nothing that is not there                                           Nada que não está lá
  and the nothing that is.                                                 e o nada que está.
                                                                                                      (Trad. IVBEM)


Lembro de ter passado frio poucas vezes, e por isso dou graças a Deus. Uma vez foi indo a Bagé de carona com meu tio Antônio Luís numas férias de julho - acho que em 1972 - de mini  saia e sem casacão. Eu aproveitara a carona para passar a tarde com minha prima Dulce Maria que morava lá. Quando saí do carro fiquei roxa, e meu tio me fez tomar um chocolate quente para me esquentar até recuperar a circulação. 


Outra vez foi em Santa Maria, quando fazia Zootecnia na UFSM, e precisei ir ao médico por causa de uma gripe que me fez faltar prova. Enquanto subia a Bozano, a planta do pé doía a cada passo de tão congelada, e eu estava de bota, meias, pala e manta e toca de lã.


Mas  o poema fala de como a gente encara, racionaliza, a partir das sensações, a experiência do inverno da terra, na terra. E aí tenho uma memória que, se pudesse, apagaria, mas que tem a ver com a racionalização e seus limites.


Uma noite em  São Leopoldo, nos anos 90, jantando numa pizzaria com filhos -ainda pequenos - amigos e parentes, caía o mundo e encostou do lado de fora uma ambulância. Ouvimos e assistimos - como na poesia  - a notícia de que ali na escada do restaurante morrera - de frio - um indigente. Difícil de contar, de lembrar, e pior ainda, de  prover uma interpretação humana, honesta, e não tão crua para as crianças.


Diante  do nada, o melhor a fazer é contemplar a pura existência do nada.


Das imagens que o poema  me suscita, ficam os  inúmeros blusões, tocas, mantas e gorros coloridos que teci para meus filhos, sobrinhos, sobrinhas, afilhados e afilhadas,  muitos a partir das revistas Burda, os quais seguem nas receitas como ideias para animar e encher de vida os
nossos invernos em família.


A receita do gorrinho snowman:  http://www.ravelry.com/patterns/library/snowman-hat-3


Esse clássico em jacquard acima: http://petitepurls.com/Winter09/winter2009_pryuuko.html


Um "ivanhoé" indispensável para esse friozão: http://web.archive.org/web/20071219174941/www.knitlist.com/99gift/toddler-helmet.htm




E que tal essas luvinhas? http://needlesnotesandnews.blogspot.com.br/2008/07/snowman-mittens-pattern.html