Sempre que chega o frio de inverno eu lembro deste poema:
SNOW MAN - Wallace stevens. BONECO DE NEVE - Wallace Stevens
One must have a mind of winter É preciso ter uma mente de inverno
To regard the frost and the boughs Para considerar os ramos e a geada
Of
the pine-trees crusted with snow;
Dos pinheiros com a neve incrustrada;
And have been cold a long time E ter sentido frio bastante tempo
To behold the junipers shagged with ice, Para contemplar os zimbros cobertos com gelo,
The spruces rough in the distant glitter Os abetos ásperos
no distante cintilar
Of the January sun; and not to think Do sol de janeiro; e não pensar
Of any misery in the sound of the
wind, Em miséria alguma no som do vento,
In the sound of a few leaves,
No som de uma folhagem rala,
Which is the sound of the land Que é o som que a terra fala,
Full of the same wind Cheia do mesmo vento
That is blowing
in the same bare place
Que está soprando no mesmo lugar descoberto
For the listener, who listens in the snow, Para quem escuta, e escuta na neve
And, nothing himself, beholds
E, ele mesmo nada, vê
Nothing that is not there Nada que não está lá
and the nothing that is.
e o nada que está.
(Trad. IVBEM)
Lembro de ter passado frio poucas vezes, e por isso dou graças a Deus. Uma vez foi indo a Bagé de carona com meu tio Antônio Luís numas férias de julho - acho que em 1972 - de mini saia e sem casacão. Eu aproveitara a carona para passar a tarde com minha prima Dulce Maria que morava lá. Quando saí do carro fiquei roxa, e meu tio me fez tomar um chocolate quente para me esquentar até recuperar a circulação.
Outra vez foi em Santa Maria, quando fazia Zootecnia na UFSM, e precisei ir ao médico por causa de uma gripe que me fez faltar prova. Enquanto subia a Bozano, a planta do pé doía a cada passo de tão congelada, e eu estava de bota, meias, pala e manta e toca de lã.
Mas o poema fala de como a gente encara, racionaliza, a partir das sensações, a experiência do inverno da terra, na terra. E aí tenho uma memória que, se pudesse, apagaria, mas que tem a ver com a racionalização e seus limites.
Uma noite em São Leopoldo, nos anos 90, jantando numa pizzaria com filhos -ainda pequenos - amigos e parentes, caía o mundo e encostou do lado de fora uma ambulância. Ouvimos e assistimos - como na poesia - a notícia de que ali na escada do restaurante morrera - de frio - um indigente. Difícil de contar, de lembrar, e pior ainda, de prover uma interpretação humana, honesta, e não tão crua para as crianças.
Diante do nada, o melhor a fazer é contemplar a pura existência do nada.
Das imagens que o poema me suscita, ficam os inúmeros blusões, tocas, mantas e gorros coloridos que teci para meus filhos, sobrinhos, sobrinhas, afilhados e afilhadas, muitos a partir das revistas Burda, os quais seguem nas receitas como ideias para animar e encher de vida os
nossos invernos em família.
A receita do gorrinho snowman: http://www.ravelry.com/patterns/library/snowman-hat-3
Esse clássico em jacquard acima: http://petitepurls.com/Winter09/winter2009_pryuuko.html
Um "ivanhoé" indispensável para esse friozão: http://web.archive.org/web/20071219174941/www.knitlist.com/99gift/toddler-helmet.htm
E que tal essas luvinhas? http://needlesnotesandnews.blogspot.com.br/2008/07/snowman-mittens-pattern.html
Pois é...lembro muito disso também, muito triste. foi no meu aniversário até se eu não me engano... mas enfim pra mim quando penso em frio de verdade, sempre lembro da Árvore de Natal na Casa de Cristo do Dostoievski, mas também das Noites Brancas do mesmo autor...
ResponderExcluirO conteúdo humano da literatura é o que nos fortalece para contemplar o nada. Felizes de nós que tivemos acesso a esse abrigo contra o frio da alma. Mais responsáveis, pois, por garantir o mesmo acesso ao maior número de pessoas, e isso tem sido a minha escolha de vvida profissional pela educação via literatura.
ExcluirObrigada, mais uma vez, pelo filho maravilhoso que és, pelo comentário generoso, e por me reafirmar o acerto de minhas escolhas, nunca fáceis, mas sempre verdadeiras. To be or not to be...
Achei um bacana o poema e acho que combina com a frieza no coração que algumas pessoas possuem, sem se dar conta disso.
ResponderExcluirAdorei. Parabéns!
Oi guria! conheço muito bem o frio da Bozano,e o vento Minuano da esquina do Taperinha kkkkk é de congelar até a alma.Morei em Santa Maria dos anos 1955 até 1976 Já estou te seguindo.quando puder passa no meu blog para uma visitinha ok? wwwanatricotando2.blogspot.com
ResponderExcluirbjs no coração
Ana, que legal essa coincidência. Vamos trocar muita figurinha nos nossos blogs. Tô indo lá agorinha...
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