sábado, 26 de maio de 2012

CORES DO OUTONO- A POESIA DE EMILY DICKINSON E UMA COLCHA DE CROCHÊ


O outono é minha estação favorita, e acho que  é coisa de geminiana. É época de começar a tricotar com lã sem morrer de calor, de pensar em projetos para executar para o inverno e algumas peças pequenas mesmo durante o inverno, à frente da lareira, com chocolate quente ou chimarrão. Muito bom!
Quando eu tenho que ensinar sobre  Halloween  e Thanksgiving  para meus alunos  de Inglês do 6º ano, eu começo explicando que outubro e novembro é outono no hemisfério norte e que lá a estação tem um colorido todo especial. Quando eu leciono  Emily Dickinson em Literatura Americana na Universidade, este é um dos poemas que eu leio (a tradução é minha):


748

Autumn—overlooked my Knitting—       O Outono - meu Tricô conferindo -
Dyes—said He—have I—                     Tinturas - disse Ele -  eu disponho -
Could disparage a Flamingo—              de dar inveja a um Flamingo -
Show Me them—said I—                      Mostre-as pra Mim - eu proponho-

Cochineal—I chose—for deeming          Carmim - Eu escolhi - pois considero 
It resemble Thee—                                que lembra Você-
And the little Border—Dusker—              E a Borda  estreita- Cinza austero -
For resembling Me—                              pois lembra a Mim   -


Nessa poesia, lê-se o diálogo entre o Outono e a poetisa, segundo a perspectiva dela, obviamente. O Outono espia a poetisa tricotar e a desafia a incorporar suas cores ao trabalho. Ela, por sua vez, responde acolhendo a provocação, escolhendo a cor carmim em homenagem a ele, mas tecendo o contorno em cinza, austero, deixando claro que a decisão era dela.


A colcha da foto foi executada por mim, inspirada numa cartela de cores outonais. O motivo original é o tradicional "Granny Square", que aprendi com minha avó, Francisca Pedroso de Azambuja, e minha tia-avó, Emeri Pedroso Duarte. Tradicionalmente, os squares da minha vó eram tecidos  com o miolo em marfim, contornados por uma cor vibrante e por último por preto, perfazendo 6 carreiras. Neste trabalho eu fiz 10 carreiras e criei um acabamento diferente, uma borda, como Emily Dickinson, num gesto autoral.  

Gostaram? Esta colcha está pronta para entrega. Quem tiver interesse, é só fazer contato.  


Espero que tenham apreciado o texto, agradeço a visita e toda e qualquer crítica vale como elogio ao meu esforço. Voltem sempre!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

JOGO DE XADREZ- UMA COBERTA DE CAMA, JORGE LUÍS BORGES E MINHAS MEMÓRIAS

JOGO DE XADREZ (Descobri, enquanto escrevia esta postagem, por que minha mãe tinha uma coleção de poesia de Omar Kayan -que eu sabia ser o autor de Rubayat - em espanhol na estante da sala)

Sou de uma geração cujo jogo de tabuleiro mais complexo que havia era o Jogo de Xadrez. Hoje, ao me deparar com o número de variáveis e combinações exponenciais que mesmo o mais simples dos jogos de computador que crianças ainda não alfabetizadas manipulam, não há como não ser tomada por uma genuína humildade intelectual.
Pertenço a uma família na qual jogar xadrez é uma tradição, não daquelas impostas, mas naturalmente adquiridas e preservadas porque ... porque sim. Senão, vejamos: 
Pode ser que o natural fosse o aspecto ritualístico que reveste a prática deste jogo: a concentração, o silêncio, o exercício do raciocínio que permite a formulação da estratégia mas também dita a tática. Natural? Sim, natural como almoçar ao meio-dia em lugares definidos à mesa, natural como esperar ser servido numa determinada ordem, como contar com a conferência dos temas e com a certeza do elogio ou do puxão de orelha.
Jogar xadrez lá em casa, na minha infância e juventude, fazia parte do sobrenome, e a gente era conhecido como tal, "aqueles jogam xadrez, ", "os Vieira", "até as gurias jogam". Havia diversos tabuleiros, de diferentes materiais e tamanhos e idades e histórias. E as histórias faziam parte do jogo, entravam em jogo perfiladas nas 16 casas ocupadas pelas peças de cada jogador.
O mais antigo era um de bolso, cujas peças eram de marfim, brancas e tingidas de vermelho, que pertencera a meu avô,  Dr Joaquim Vieira Netto, engenheiro civil e geógrafo. Nesse, só quem jogava era meu pai e, em ocasiões raríssimas, meu irmão mais velho.
Lembro do maior deles, um tabuleiro lindo em marcheteria de louro claro e escuro com peças grandes, meu favorito. Posso sentir ainda hoje o cheiro da madeira, e o deslizar suave do feltro sob as peças descrevendo as diagonais, os "L's", as verticais e horizontais, empurradas pelo motor da emoção do desafio e pela força (do)peso da tomada de decisão.
E havia também aquele de tamanho médio, também de madeira, que nos acompanhava na pasta (na época ia-se para a aula com uma pasta, não mochila) para o colégio para jogar no intervalo ou antes de bater. Às vezes a gente montava um torneio na hora, mas que durava temporadas inteiras, até os exames finais, porque a gente estudava muito e só jogava quando sobrava tempo. Outro tempo, outro ritmo, outro mundo.
Encontrei esta receita de tabuleiro e peças em crochê que dá para carregar na bolsa! Maravilha!


http://acraftyblog.blogspot.com.br/2008/11/crochet-chess-set.html

Pois foi com saudades de jogar xadrez que eu comecei há mais de 2 meses, uma coberta de cama para meu filho mais velho, engenheiro como meu avô, cuja receita tem o título Cheque-Mate.  Confiram a foto da receita.

Aqui vocês encontram uma receita para tricotar tabuleiro e peças, muito legal!
http://www.clarescopefarrell.co.uk/pdf/chesscheckerboard.pdf


Ou, se preferirem, em crochê.
http://www.ravelry.com/patterns/library/crochet-chess-pieces

E uma receita sofisticada em crochê, lindíssima.
http://angicrochet.blogspot.com.br/2008/09/chess-set.html

Esta postagem não estaria completa sem uma referência literária, então segue para o seu deleite, caros leitores, nada mais nada menos do que Jogo de Xadrez, de Jorge Luís Borges, Uma obra prima.

JOGO DE XADREZ

I

Em seu grave rincão, os jogadores
as peças vão movendo. O tabuleiro
retarda-os até a aurora em seu severo
âmbito, em que se odeiam duas cores.
Dentro irradiam mágicos rigores
as formas: torre homérica, ligeiro
cavalo, armada rainha, rei postreiro,
oblíquo bispo e peões agressores.
Quando esses jogadores tenham ido,
quando o amplo tempo os haja consumido,
por certo não terá cessado o rito.
Foi no Oriente que se armou tal guerra,
cujo anfiteatro é hoje toda a terra.
Como aquele outro, este jogo é infinito.


II

Rei tênue, torto bispo, encarniçada
rainha, torre direta e peão ladino
por sobre o negro e o branco do caminho
buscam e libram a batalha armada.
Desconhecem que a mão assinalada
do jogador governa seu destino,
não sabem que um rigor adamantino
sujeita seu arbítrio e sua jornada.
Também o jogador é prisioneiro
(diz-nos Omar) de um outro tabuleiro
de negras noites e de brancos dias.
Deus move o jogador, e este a peleja.
Que deus por trás de Deus a trama enseja
de poeira e tempo e sonho e agonias?

AJEDREZ
I
En su grave rincón, los jugadores
Rigen las lentas piezas. El tablero
Los demora hasta el alba en su severo
Ámbito en que se odian dos colores.
Adentro irradian mágicos rigores
Las formas: torre homérica, ligero
Caballo, armada reina, rey postrero,
Oblicuo alfil y peones agresores.
Cuando los jugadores se hayan ido
Cuando el tiempo los haya consumido,
Ciertamente no habrá cesado el rito.
En el oriente se encendió esta guerra
Cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra,
Como el otro, este juego es infinito.

II

Tenue rey, sesgo alfil, encarnizada
Reina, torre directa y peón ladino
Sobre lo negro y blanco del camino
Buscan y libran su batalla armada.
No saben que la mano señalada
Del jugador gobierna su destino,
No saben que un rigor adamantino
Sujeta su albedrío y su jornada.
También el jugador es prisionero
(La sentencia es de Omar) de otro tablero (1)
De negras noches y de blancos días.
Dios mueve al jugador y éste, la pieza.
¿Qué dios detrás de Dios la trama empieza
De polvo y tiempo y sueño y agonía?

Jorge Luis Borges

(1) La vida es un tablero de ajedrez, donde el Hado nos mueve cual peones, dando mates con penas, en cuanto termina el juego, nos saca del tablero y nos arroja a todos al cajón de la Nada.
(Omar Khayyam, matemático, astrônomo e poeta persa)

Game of Chess
I
In their grave corner, the players
Deploy the slow pieces. And the chessboard
Detains them until dawn in its severe
Compass in which two colors hate each other
Within it the shapes give off a magic
Strength: Homeric tower, and nimble
Horse, a fighting queen, a backward king,
A bishop on the bias, and aggressive pawns.
When the players have departed, and
When time has consumed them utterly,
The ritual will not have ended.
That war first flamed out in the east
Whose amphitheatre is now the world.
And like the other, this game is infinite.
II
Slight king, oblique bishop, and a queen
Blood-lusting; upright tower, crafty pawn--
Over the black and the white of their path
They foray and deliver armed battle.
They do not know it is the artful hand
Of the player that rules their fate
,
They do not know that an adamant rigor
Subdues their free will and their span.
But the player likewise is a prisoner
(The maxim is Omar's) on another board
Of dead-black nights and of white days.
God moves the player and he, the piece.
What god behind God originates the scheme
Of dust and time and dream and agony?

sábado, 19 de maio de 2012

PERSONALIZANDO MEU CARRO ou I LOVE ALL THINGS ENGLISH!

Minhas paixões:  tricô e crochê e língua e literatura inglesa e americana num único elemento. é demais para a  veia (ou anciã, lido com o ditongo aberto)!

Não consigo (d)escrever a minha reação ao post do linque abaixo!

Knitting with Fire: I Tricked Out My MINI With Knitting

Vou tentar tecer uma dessas luvas de retrovisor para o meu carro.  Fica a ideia para personalizarem os seus com diferentes bandeiras: do Brasil, do Rio Grande do Sul, do seu time, etc.

MUUUITO CRIATIVO!!!

terça-feira, 15 de maio de 2012

O INÍCIO É MUITAS VEZES O FIM (T.S.ELIOT) - RECEITA DE MÖEBIUS

O QUE CHAMAMOS DE INÍCIO É MUITAS VEZES O FIM

E FAZER UM FINAL É FAZER UM COMEÇO.

O FIM É DE ONDE SE PARTE.


 Fonte da foto: http://www.treasuresmadefromyarn.com/2011/09/mobius-ripple-cowl.html


WHAT WE CALL THE BEGINNING IS OFTEN THE END
AND TO MAKE AN END IS TO MAKE A BEGINNING.
THE END IS WHERE WE START FROM 
(Little gidding- T.S. Eliot) 





Os versos de T.S. Eliot conjuram a imagem do infinito, onde começo e fim não estão estabelecidos, onde não há lado de dentro ou de fora, para mim é  a imagem do continuum tempo-espaço. Uma imagem muito sedutora e absorvente, que convida a  mergulhar numa dimensão do universo em que se experimenta a dissolução dos limites.

O design Möebius, comum em peças como lenços, echarpes e pelerines, é uma boa representação dessa imagem. Há diferentes técnicas para se executar uma peça Möebius, em tricô ou crochê, de diferentes complexidades.  

Em tricô pode-se tecer numa única peça, sem costuras, montada em agulhas circulares ou num único retângulo em agulhas convencionais, sendo que o segredo vai estar ao torcer a peça para fazer a costura ou arremate. Já em crochê é bem mais simples, mas em qualquer caso resulta uma peça versátil e charmosa.

Deixo aqui para vocês alguns linques de vídeos demonstrando desde a montagem dos pontos até a execução e arremate nas diferentes técnicas, além de páginas onde vocês podem ter inspiração para suas próprias Möebius.

Vídeo (em inglês) demonstrando a montagem em tricô e  primeiras carreiras: http://www.youtube.com/watch?v=LVnTda7F2V4

Montagem dos pontos em tricô (em português) bem didática e ilustrada: http://www.tricoteiras.com/wp-content/uploads/2011/06/Mobius.pdf

Receita (em inglês) de um cachecol em tricô: http://catbordhi.com/wp-content/uploads/Moebius-Cowl-Handout.pdf

Receita em português de  Gola Möebius em tricô: http://tricosemcostura.files.wordpress.com/2010/10/gola_moebius.pdf 

Receita (em português) de variação da Gola Möebius em tricô: http://www.tricoteiras.com/?p=3195 
Montagem em crochê (em inglês): http://www.youtube.com/watch?v=DWE9gf4tNEI

Montagem em crochê numa técnica mais  simples (em inglês): http://www.youtube.com/watch?v=QhriaelHsB4

Receita de Gola Möebius em crochê (em inglês) : http://www.treasuresmadefromyarn.com/2011/09/mobius-ripple-cowl-pattern.html

Gostaram? É mesmo um desafio...

domingo, 13 de maio de 2012

A DESTREZA DE IRENE - A CASA TOMADA, DE CORTÁZAR/RECEITAS DUPLA-FACE

Cortázar, em seu primeiro texto publicado,  Casa tomada, toma emprestado o tema do conto de Poe, The Fall of the House of Usher, e focaliza a atividade de tricotar não só na caracterização da personagem Irene mas também na sintaxe que desenvolve na narração na vertente do realismo fantástico. Um tricô tecido em ponto dupla-face, sem direito e avesso; um universo instituído no real-irreal. Nos dois contos, os irmãos são referidos como imagens invertidas, especulares, um do outro.

Sob o ponto de vista do narrador, o irmão, Irene tricota porque é mulher, tricota  e desfaz o que lhe desagrada, tricota e engendra um espaço para o irmão na sua rotina e no seu universo. Ao deixar a casa com o irmão, Irene carrega o tricô - o espaço de existência do irmão assegurado, seu duplo.

Apesar de sombrio como o conto de Poe, Casa tomada contém lindas referências à prática do tricô, sua função e centralidade na vida da personagem Irene.   

Irene era uma jovem nascida para não incomodar ninguém. Fora sua atividade matinal, ela passava o resto do dia tricotando no sofá do seu quarto. Não sei por que tricotava tanto, eu penso que as mulheres tricotam quando consideram que essa tarefa é um pretexto para não fazerem nada. Irene não era assim, tricotava coisas sempre necessárias, casacos para o inverno, meias para mim, xales e coletes para ela. Às vezes tricotava um colete e depois o desfazia num instante porque alguma coisa lhe desagradava; era engraçado ver na cestinha aquele monte de lã encrespada resistindo a perder sua forma anterior. Aos sábados eu ia ao centro para comprar lã; Irene confiava no meu bom gosto, sentia prazer com as cores e jamais tive que devolver as madeixas. Eu aproveitava essas saídas para dar uma volta pelas livrarias e perguntar em vão se havia novidades de literatura francesa. Desde 1939 não chegava nada valioso na Argentina. Mas é da casa que me interessa falar, da casa e de Irene, porque eu não tenho nenhuma importância. Pergunto-me o que teria feito Irene sem o tricô. A gente pode reler um livro, mas quando um casaco está terminado não se pode repetir sem escândalo. Certo dia encontrei numa gaveta da cômoda xales brancos, verdes, lilases, cobertos de naftalina, empilhados como num armarinho; não tive coragem de lhe perguntar o que pensava fazer com eles. [...]  Mas era só o tricô que distraía Irene, ela mostrava uma destreza maravilhosa e eu passava horas olhando suas mãos como puas prateadas, agulhas indo e vindo, e uma ou duas cestinhas no chão onde se agitavam constantemente os novelos. Era muito bonito.

O narrador insiste que quer falar da casa, o que só consegue depois que fala de Irene.  E a casa, o edifício e também o ambiente familiar, vai se revelando na narração e passando de uma coleção de memórias a "um 'território-surpresa', de dupla-face"  onde se reconhece o familiar(conhecido) e o inesperado.

Quando acabam por abandonar a casa - leiam o conto  para saberem o porquê e como - , Irene tem o tricô na mão. 

Nesse breve trecho do conto de Cortázar, encontro uma provocação para buscar e compartilhar com vocês  receitas de pontos dupla-face em tricô.

  • 1. Reversible cable stitch scarf
  • 2. Reversible honeycomb scarf
  • 3. Reversible cabled scarf
  • 4. Mock cable pattern

Gostaram? Postem seus comentários. Não gostaram? Posso melhorar se puder contar com suas críticas.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

MATE SIMPLES - Motivo: Eduardo Galeano

Mate simples                                                          Bind off

Os fios tecem os dedos das tricoteiras.                  Knitters' fingers neat in yarn                  
Ágeis, os pontos correm carreiras                           Stitches swiftly running rows                  
Nas tramas de todas as dores.                                Woven in all woes.
Nos dramas, em todas as cores,                             In all colors drama flows
Tece, o artesão,  a fantasia,                                   The artisan's fancy is spun                               
Veste a barra do dia,                                              Donning dawn
Cobre a nudez da noite                                          Covering  the night's nudity.
E as agulhas, pouco à vontade,                              Uneasy, the needles knit a knot
Assinam com ponto final:                                      And sign the fabric with a final dot.
Mate simples                                                          Bind off.
                       Isabella Vieira de Bem

Às vezes me dá essa coisa, e eu tenho que escrever./ It just gets to me, and then I write. 
Desta vez foi inspirada pela poesia de Eduardo Galeano, que reproduzo a seguir:  The teaser this time  was Eduardo Galeano's poem below:

JANELA SOBRE OS SERES E OS AFAZERES
“A pele da passadeira de roupas é lisa.
Longo e ponteagudo é o consertador de guarda-chuvas.
A vendedora de frangos parece um frango depenado.
Brilham demônios nos olhos do inquisidor.
Há duas moedas entre as pálpebras do avarento.
Os bigodes do relojoeiro marcam as horas.
Têm teclas as mãos da secretária.
O carcereiro tem cara de preso e o psiquiatra, cara de louco.
O caçador se transforma no animal que persegue.
O tempo transforma os amantes em gêmeos.
O cão passeia o homem que o passeia.
O torturado tortura os sonhos do torturador.
Foge, o poeta, da metáfora que encontra no espelho.”

A propósito do título desta postagem, seguem linques para vídeos demonstrando e explicando técnicas diferentes de arremates em tricô com indicações valiosas para se obter o melhor resultado de acordo com a peça ou ponto utilizado. Concerning the title of this post, the links below will redirect you to videos of different techniques for binding off in knitting containing precious hints to obtain the best results according to  the article being knitted and the pattern being followed.

ARREMATES E COMBINAÇÕES: Vídeo de Superziper (em português) http://vimeo.com/12446194
ARREMATE RUSSO (Tricô sem Costura): Vídeo  de arremate para peças flexíveis como ponchos e cachecóis. http://tricosemcostura.com/videos-trico-colorido/arremate-russo/
ARREMATE COM AGULHA DE CROCHÊ: Vídeo (em inlgês) http://www.garnstudio.com/lang/en/video.php?id=177
Espero que o mateiral lhes seja útil. Se gostarem da postagem, comentem; se não gostarem, comentem também para eu poder melhorar.
I do hope this fits your needs and expectations. If you like this post, please leave a comment. If you don't, leave a comment anyway so that I can do better next time.

terça-feira, 8 de maio de 2012

TRICOTANDO NO BEIRA-RIO / NA ERA DA INOCÊNCIA

Queria ter uma foto minha tricotando no Beira-Rio numa tarde de domingo durante um jogo Inter X Rio Grande nos idos de 1990 para compartilhar aqui com vocês. No tempo em que  era permitido o acesso ao estádio portando objetos metálicos ponteagudos, eu acompanhava meu marido e nossos 4 filhos aos jogos, na mais completa plenitude, com segurança e certeza de que estávamos, Luciano e eu,  criando memórias, forjando bases sólidas,  espaços  de convivência, e experimentando nossa prole no trato social e de cidadania.

Desafios para nós pais, expô-los, pouco a pouco, mas desde tenra idade, à amplitude e diversidade do humano, a conviver com o sucesso e a derrota, a controlar as emoções e aprender a consequência da perda desse controle, a xingar e ouvir palavrões no contexto preciso, e a diferençar a violência da barbárie, o repúdio da indiferença, a humildade da pobreza de espírito. O espírito de equipe, a liderança do capitão do time,  a  responsabilidade e o comando do treinador, a mediação do trio de arbitragem, todos os elementos do espetáculo a se desenrolar nos limites do campo persistem como alegoria dessa aventura que é compor uma família.

Os limites, tão naturais de se respeitar no desenho do campo, sinalizando e advertindo desde sempre o risco da infração, tornaram-se para muitos núcleos familiares hoje verdadeiros anátemas e metas inalcançáveis. Esse mesmo mundo contemporâneo, cujas mudanças aparentemente exigem o abandono de valores tidos como perenes, ele mesmo não se sustenta sem referências,  já que são as REDES sociais o seu emblema.  Doce ironia, saber que a experiência da "bola na rede", do momento ora de êxtase, ora de amargura, é tão mais significativa quanto mais compartilhada: o brilho nos olhos, o grito a plenos pulmões, a lágrima contida e o NÓ na garganta.

Bola rolando e os guris aprendendo a conhecer o pai em momento de paixão, torcendo, extravasando, se deixando revelar,  criando LAÇOS de reciprocidade que são inabaláveis, esses sim, perenes. E enquanto a bola rolava, eu tricotava, servia água, protegia do sol, em pleno estádio Beira-Rio, criando memórias e matéria de sonhos, daquilo que, segundo Shakespeare, somos feitos.

 "We are such stuffs                                               "Somos feitos da mesma substância
   As dreams are made on, and our little life            De que são feitos os sonhos, e entre um sono e outro,
    Is rounded with a sleep."                                      Decorre a nossa breve existência".
          The Tempest, Act IV - Prospero                                  A Tempestade, Ato IV - Próspero


Bola pra frente! E tricô, que só faz bem!

Não deixem de conferir o linque  com uma receita de tricô para uma bola de Futebol bem tradicional que eu queria ter tecido  para meus filhos quando pequenos.

http://www.yanaknits.com/projects/soccer-ball/

Se gostaram, comentem; se não gostaram, comentem também...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A MÃO QUE ESCREVE, A MÃO QUE TECE: AMOR,

Eis aqui as LINHAS de abertura do (P)CONTO : Amor, de Clarice Lispector


Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.

Não é tudo que Clarice escreveu que eu admiro, leio ou recomendo, mas absolutamente amo todos os seus contos e crônicas, especialmente os que tematizam a experiência das mulheres, mães de família e seu riquíssimo universo existencial.  No trecho do conto Amor, não há como não embarcar na descrição da cena mundana  íntima de todas nós: o cansaço, que nunca  admitimos ser demais, as compras para alimentar a família, cujo peso deforma o "novo saco de tricô",  certamente tecido pelas mãos que seguram as sementes que são frutos das próprias mãos. Os frutos, ah, os frutos, "eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta". Sem falar no vento, alento, "nas cortinas que ela mesma cortara".
Já nessa abertura, Clarice monta a relação entre a cadeia da natureza, da vida, do amor, que vai crescendo, e a obra executada pela mão, a mão, por meio de três imagens: o tricô, a tesoura e o crochê. O primeiro, o tricô que amortece o peso; depois a tesoura, que recorta o pano que filtra o vento, um tropo literário para a mudança e as intempéries. As cortinas, que para muitos têm pouco valor além do estético, aqui a dimensão: a proteção do ambiente interior, íntimo, familiar, um filtro de amor e de afeto. Por último, o crochê, tão sutilmente referido como aquilo que Ana emprestava "tranqüilamente" a tudo, a base, o fundamento, "sua corrente de vida".

"Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua CORRENTE de vida." 


Amo vocês, meus queridos leitores, e aguardo seus comentários, críticas e sugestões!

domingo, 6 de maio de 2012

TRICÔ, PRAZER E PODER

Encontrei um texto interessante sobre a relação entre o tricô e as sensações de prazer e poder para a gente refletir. Traduzo aqui um trecho do original  em inglês

Tricotar é muito mais do que simplesmente confeccionar algo.There is much more to knitting than just making something. A knitter sees amazement in the eyes of a non-knitter. they hear praise and thanks when a project is finished and given as a gift. The camaraderie of a knitting circle is priceless. Friends meeting, talking about their work and sharing their knitting expertise is wonderful. Helping someone solve a problem with a knitting pattern or the learning of a new stitch is another source of joy. Sharing patterns that turn out great is another good thing.
Fonte: http://heightslibrary.org/wordpress/headrat/?p=149

sábado, 5 de maio de 2012

TRICÔ COMO METÁFORA PARA ESCRITA

Vou traduzir aqui parte de um post sobre TRICÔ COMO METÁFORA para a atividade da escrita,


O tricô é uma metáfora bem boa para a escrita. A gente tem uma ideia, reúne tudo de que precisa, disponibiliza tempo para executar o projeto e começa. Envereda por intermináveis carreiras de malha, tricô, aumentos, diminuições, resgate de pontos que escaparam, desmancha cinco carreiras do ponto da receita que se fez errado porque não estava concentrado como devia para ser dar conta, e embora se tenha uma vaga ideia de como um determinado trabalho deveria ficar, ele não parece certo mas a gente ainda tem a esperança de que no final vai dar certo …


Mesmo quando a gente está seguindo uma receita, e eu sigo ao tricotar, tudo é incerto até que se tenha o todo, todos os  pedaços na nossa frente, e então  quando está montado, a gente experimenta e...  se não estiver como a gente quer - como quando se escreve um romance - bom, a peça vai acabar numa sacola ou gaveta em algum canto.

Fonte: http://notdesignedtojuggle.wordpress.com/2011/01/26/a-knitting-metaphor/

Não é bem assim?

quinta-feira, 3 de maio de 2012

VÃO-SE OS DEDOS (das luvas) E FICA O SENHOR DOS ANÉIS.

Da relação entre (luvas sem ) Dedos e (o senhor dos) Anéis:

A partir de uma solicitação do grupo Tricoteiras do FB, busquei uma receita de  luvas sem dedos em padrão Irlandês. Encontrei esta aqui, que veio, de quebra com uma citação de J.R.R.Tolkien:
lá [ela] ia diante de seus olhos em Valfenda,
vestida com um manto prata e azul, bela como o
crepúsculo em Elven-home
     O Conto de Aragorn e Arwen

A designer justifica a relação entre tricô e literatura assim:

" Eu precisava de um projeto para tricotar durante o nosso  Final de Semana do Senhor dos Anéis  e Chrissie precisava de algo para manter suas mãos aquecidas enquanto tricotava na sua oficina. Esta linda lã  azul-prateada me fez penar no brilho das estrelas e na Evenstar de seu povo, então eu fiz essas luvinhas sem dedos inspiradas em Arwen da forma como eu a imagino nos livros."
Não ficou lindo?


E aí? Mais alguma relação  entre  literatura e tricô?

terça-feira, 1 de maio de 2012

ATENA

TE A[N]TENA, TCHÊ!

Deusa da guerra, nasceu nas margens do lago Tritônis, na Líbia. É engenhosa, protege as fiandeiras, os tecelãos e as bordadeiras. Inventou o carro de combate e ensinou o homem a extrair azeite das azeitonas.
( Fonte: http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=953)
fonte> http://knitting-with-athena.blogspot.com.br/

Presididas pela deusa grega Atena, figuram na plêiade de tricoteiras arquetípicas:
  • Penélope, Ariachne, Scarlette O' Hara e a Rainha Elizabeth II. 

Quem conta um conto...(.) aumenta um ponto.

A relação entre a narrativa e a arte de tecer também se evidencia no dito popular "Quem conta um conto, aumenta um ponto". São várias as estórias que fazem referência a essa relação. Vejamos:

A roupa nova do imperador - da Dinamarca
O turbante novo do rei - da Turquia
O manto de seda invisível- de Sri Lanka
O rei e a menina esperta - da Ìndia
O moleiro do polegar de outro - da Inglaterra
( Fonte: http://www.pitt.edu/~dash/type1620.html)

Sabem de mais algumas?

Neste documento, p.8-9 há explicações detalhadas e ilustradas de diferentes técnicas de AUMENTAR UM PONTO em tricô. http://www.slideshare.net/julilindaenf/1300-pontos-de-trico

Aves do meu Tempo!: Tecelões Mascarados

Sobre a atividade de tecer na  natureza.

Aves do meu Tempo!: Tecelões Mascarados: Tecelões Mascarados (Ploceus velatus) ::: A arte de fazer ninho Um estudo desenvolvido por cientistas das universidades de Edinburg...
Como agora os ditongos abertos não levam mais acento agudo, tricotnaveia pode ser tanto tricot na veia (vaso sanguíneo - já sem trema e ainda um trauma para quem se formou em Letras na década de 1980) quanto tricot na veia (anciã - ufa, sobrou acento!).  Quanto  a undermyskein, serve de equivalente para a primeira leitura, um trocadilho da expressão inglesa under my skin. O termo skein, meada, resgata a relação com o tricot.

Espero por vocês, meus leitores e seguidores, para refletir sobre essa tradição que está na raiz do mito de criação das moiras, as fiandeiras do universo, e a atividade da narrativa, duas das minhas paixões.

Hoje, Dia do Trabalho, é oportuno lembrar que
  • Em 1940  o salário mínimo passa a existir pela pena de Getúlio Vargas. Passados 72 anos, os professores continuam lutando pelo cumprimento da Lei do Piso Nacional da categoria.